A psicóloga brasileira Fernanda Dal Pizzol, com formação em Psicologia e também em Arte Dramática, compartilha uma visão sensível e profunda sobre a importância do cuidado emocional na formação de jovens atletas. Com uma trajetória que une o campo clínico e o artístico, Fernanda se graduou em Psicologia em 2012 e desde então atua há mais de oito anos na área clínica, com foco no acompanhamento de adolescentes e adultos. Ao longo desse percurso, também acumulou experiências significativas com crianças no espectro autista e suas famílias, o que ampliou sua escuta e compreensão sobre os diferentes aspectos do desenvolvimento emocional e relacional na infância e adolescência.
Além da clínica, sua vivência como professora assistente em escolas de teatro e em produções de peças infanto-juvenis reforça a importância da expressão, da escuta e da construção de vínculos no processo formativo de crianças e jovens. Atualmente residente em Portugal, Fernanda segue atuando como psicanalista e se mantém em constante formação nas áreas de psicossomática e psicologia aplicada ao desenvolvimento humano. É a partir desse olhar interdisciplinar e humano que ela nos convida a refletir sobre como a psicologia pode ser uma aliada essencial na formação de jovens atletas — ajudando-os não apenas a desenvolver suas habilidades técnicas, mas também a lidar com emoções, frustrações e desafios próprios do desporto e da vida.
Confira abaixo a entrevista com a Dra. Fernanda Dal Pizzol:
ProAcademy: Qual é o papel da psicologia na formação emocional de jovens atletas em fases iniciais da carreira?
Dra. Fernanda: Acredito que o papel inicial da psicologia é acolher e escutar. Então, independente se os jovens forem atendidos por um psicólogo clínico ou do desporto, é importante que eles se sintam à vontade para falar, sintam-se seguros e tenham confiança no profissional que está os acolhendo.
À parte disso, a psicologia pode ajudar os jovens a se conhecerem melhor, entenderem suas habilidades, suas fraquezas e assim continuarem se desenvolvendo com saúde na vida e no desporto.
O processo de psicoterapia ajuda a desenvolver uma reflexão, e assim as pessoas costumam organizar e conectar seus pensamentos com a fala, conseguindo se expressar melhor e ter relações mais saudáveis. E tudo isso ajuda na carreira.
ProAcademy: Como o acompanhamento psicológico pode contribuir para o equilíbrio entre o desempenho desportivo e a saúde mental dos atletas jovens?
Dra. Fernanda: Além do que já citei, um acompanhamento psicológico desde jovem pode ajudar a identificar se há algo “disfuncional” no desenvolvimento da criança ou adolescente, ou seja, se há algo que está afetando negativamente no seu dia-a-dia, as suas relações e os tá fazendo sentir tristeza, raiva, ansiedade, entre outros exemplos.
É comum psicopatologias consideradas de “adulto” aparecerem em crianças e adolescentes, mas, muitas vezes são “mascaradas” por sintomas que não são tão óbvios assim. Aí a importância de um acompanhamento, prevenir o sofrimento e/ou encarar o sofrimento com a ajuda do profissional. Pois se algo os tiver afetando nesse sentido, o desempenho, a estabilidade e a confiança também poderão ser prejudicados no desporto.
ProAcademy: De que forma o ambiente familiar e escolar impacta o desenvolvimento psicológico de um jovem atleta?
Dra. Fernanda: Por ser uma carreira que exige bastante responsabilidade e foco desde muito jovem, normalmente mais cedo do que outras profissões, é interessante que a família e a escola observem e de novo, acolham, respeitem e escutem o que está passando com ele.
É possível que muitas vezes a criança e o adolescente atletas tenham que abdicar de estarem com amigos e família para treinar ou então cumprir outras tarefas relacionadas, como dieta mais orientada para o seu tipo de esporte ou obrigações que são diferentes de outros colegas. Isso pode fazer com que eles se sintam deslocados e distantes daqueles grupos que não envolvem o seu grupo de treinos.
Uma boa ideia é a família e a escola estimularem essa interação entre diferentes grupos e espaços, para que o jovem não fique restrito a só um ambiente e assim se sinta pertencente também ao mundo ao redor.
Também, para que o desenvolvimento de um jovem atleta seja saudável, é fundamental ele viver e frequentar ambientes onde há acolhimento, diálogo, respeito e amor. Um ambiente onde eles não se sintam cobrados ou pressionados o tempo todo para que tenham uma alta performance.

ProAcademy: Quais são os sinais de alerta mais comuns que indicam que um jovem atleta pode estar enfrentando dificuldades emocionais?
Dra. Fernanda: Falta de energia, irritabilidade, comportamentos agressivos, tanto com eles próprios ou com outros, tristeza extrema, isolamento, ansiedade.
Os sinais podem ser muitos. Como falei acima, alguns sintomas não são tão óbvios e muitas vezes podem se “mascarar”.
E fica ainda mais difícil de identificar em crianças menores, por elas ainda não terem desenvolvido a linguagem como uma criança mais velha ou adolescente.
É importante estarmos atentos e observar.
ProAcademy: Como a psicologia desportiva pode ajudar os jovens a lidarem com pressões competitivas, derrotas e expectativas externas?
Dra. Fernanda: Autoconhecimento, aprender a perder (ou seja, aprender que a perda faz parte da vida e se soubermos como lidar com essa falta, pode ser que possamos administrar melhor algumas circunstâncias, tanto no desporto como em outros lugares).
Aceitar e comemorar suas habilidades e também suas fraquezas.
Melhores relacionamentos com os colegas de equipe e também as pessoas de convivência fora do desporto.
O desporto existe desde que o mundo é mundo e seus benefícios são imensos.
Ajuda a equilibrar a saúde física e mental e também nos traz diversão seja praticando, assistindo ou torcendo. Ele une as pessoas. Como psicóloga, eu sempre recomendo aos meus pacientes fazerem atividade física. E como pessoa, pratico esportes quase todos os dias.
Então é isso, espero ter ajudado, espero que vocês persistam, alcancem o que vocês buscam e que acima de tudo, sintam felicidade e prazer na prática. Acho que é por aí que tudo começa a fazer sentido.
Abraços e se precisarem de algo, estou por aqui, longe mas perto.